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“Ah! Mas o que importa é que o seu filho tem saúde!”⠀

Olha só, eu entendo. Os milagres da gratidão são reconfortantes. Ela encolhe os problemas e transforma o pouco em muito.⠀

Mas existe o outro lado. ⠀

Gratidão não é macarrão instantâneo. ⠀

Há sentimentos que precisam ser processados e lembranças que pedem tempo.⠀

Há sonhos que exigem perdão. ⠀

Muito cuidado com esta história de que o importante é um filho saudável nos braços.⠀

Porque isso é óbvio. ⠀

Um filho com saúde está acima de qualquer desejo. Uma mãe é grata pela saúde do filho não importa o contexto, o dia da semana, o cansaço, a preguiça, a raivinha.⠀

Uma mãe é grata pela saúde da sua criança mesmo quando reclama, chora, se diz de saco cheio ou se imagina tomando um drink com guarda-chuvinha de abacaxi preso no palito, na praia e sem menores de idade. ⠀

É perigoso e injusto “desumanizar” as frustrações de uma mulher.⠀

A experiência de parto não foi boa? A amamentação não deu certo? O bebê chora muito mais do que você imaginava? ⠀

Diga! Verbalize o sentimento. Escreva uma carta para você, para uma amiga, para o profissional sem vergonha que te deixou na mão. Reclame. Na justiça, na ouvidoria ou na frente do espelho. Bota isso para fora. Busque ajuda se as emoções atingiram um patamar que não dá para lidar sozinha.⠀

Frustração é curva no caminho de quem é gente. De quem tem planos e sonhos. Não é sinônimo de ingratidão.⠀

Por trás da barriga, dos seios, da papelada de adoção, do colo, existe uma pessoa.⠀

“Ah! Mas seu filho tem saúde…”⠀

“Sim, graças a Deus ele tem. E até para cuidar da saúde dele, eu preciso da minha também!”⠀


Autora: @rafaelacarvalhoescritora