em casa
giulia
Tem algo de diferente na primeira vez.
Começa com o tempo que passamos imaginando. E com o preparo de quem quer dar conta de tudo minuciosamente.
Pensando em cor de cobertor, enfeites, marca de lenço umedecido, roupinhas fofas e chatas de vestir, e coisas que parecem ser extremamente pertinentes.
E, naquele momento, elas são.
O primeiro bebê abre um portal na vida da gente.
Onde é possível sonhar, e idealizar, e fazer planos cheinhos de detalhes. É um mundo inteiro de possibilidades e muitas, muitas convicções.
Verdades absolutas que todos ao redor avisam que se transformarão em cuspe, que cairá na testa. Mas com a gente? É claro que será diferente.
Como é bom pensar assim.
Os aprendizados que o primeiro traz e o crescimento fruto desse processo nenhuma outra experiência de vida é capaz de gerar.
Tudo é demais no primeiro.
O difícil é realmente difícil e as novidades diárias são bonitas, realmente bonitas.
Eu me lembro de colocar o meu primeiro bebê no carrinho, de arrumar a bolsa de fraldas com atenção, organizando cada bolso, levando todos os possíveis apetrechos, e de sair pela porta da frente tomada por um sentimento que me enchia de mim. Que me ocupava junto com o ar que entrava nos pulmões e se expandia, e fazia me sentir… mãe.
É isso que o primeiro faz: o se sentir mãe. Com tudo que o título carrega: as mudanças, os medos, pesos, frustrações e toda a felicidade que surge nas beiradas de cada uma dessas coisas.
Descobertas que começam a nascer ali. Com aquele primeiro serzinho.
Chegam outros filhos, nos reinventamos como mãe de dois, três ou mais, mas já somos. De lá pra cá, ajustamos o voo, a altura, a velocidade, mas nada se compara ao enxergar o precipício na primeira queda-livre.
Toda vez que me perguntam se quero mais filhos, a sensação que me vem é a do primeiro. Sempre a do primeiro.
E até machuca. Estranho saber que mesmo se quisesse, mesmo se tivesse mais um, dois, há uma saudade que jamais será preenchida. Porque nada me levará de volta para aquele lugar.
A imensidão do novo, a dor, a alegria e a transformação.
Tem algo de diferente na primeira vez.
É complicado.
E é lindo demais.
Autora: @rafaelacarvalhoescritora