em casa

inácio

A gente acha que tem tempo.


E que amanhã será o dia.


É isso! A partir de amanhã, eu começo.


Amanhã darei mais atenção. Amanhã ficarei menos no telefone, brincarei mais, puxarei mais assunto, darei mais ouvidos.


Depois de resolver esse problema que está tirando a minha paz, amanhã, sem falta, serei a mãe que quero ser.


Amanhã teremos jogos de tabuleiro, brincadeiras improvisadas, passeios, olho no olho e conversas. Amanhã.


Os amanhãs se somam.


Eu sei que é cansativo. Que dá preguiça, que tem horas que eles falam devagar, e se movem devagar, e inventam mil e trinta e três regras para um jogo que poderia ser bastante simples (isso quando não mudam as regras de um jogo que já existe).


Eu sei que até começar a partida, a paciência foi parar na lua. Eu sei.


Sei porque já estive aí.


Os meus amanhãs chegaram. E daqui, fica bem mais claro.


Não dá para esperar a vontade aparecer (raramente chega) para se sentar à mesa e jogar com amor o joguinho escolhido


É preciso jogar hoje, por amor.


Os amanhãs passam.

Voam entre o dirigir até a escola, o boleto para pagar, os planos de viagem, a fase longa.


Se espalham soltos entre a dor de cabeça, a vontade de ficar quietinha, de ver aquele conteúdo bobo e gargalhar tranquila, de fugir com os pensamentos para um universo paralelo.


Os amanhãs se acumulam entre resoluções de ano novo e abraços de natal.


O amanhã aparece.


E não traz com ele as coisas que ficam pelo caminho.


Por isso o apelo, não deixe a esperança do amanhã ser maior que a preciosidade que há aí, hoje, no sofá manchado.


O amanhã chega. E tem outro jeito. Porque o amanhã é diferente.


Abracem, sentem no chão, abram o tabuleiro do jogo.

Olhem para os bebês de vocês.


Autora: @rafaelacarvalhoescritora