newborn lifestyle

valentina

O que me incomoda na cartilha contemporânea de boa maternidade não é só a pressão e o peso que chegam junto com ela.


É também a vaidade, que vem enrustida.


É essa coisa de nos posicionarmos contra rótulos e depois sermos os primeiros a rotular:


“Meu filho é ___ (insira o elogio) porque crio de tal jeito.”


Como mãe, que tem em casa um quase adulto, prestes a completar 18 anos, e também o outro lado do espectro, um pequeno de 3, vejo como é uma enorme ilusão acharmos que temos esse poder todo.


Que somos nós os únicos responsáveis pelo futuro emocional, comportamental, profissional e qualquer outro “al” dos nossos filhos.


É claro que bons hábitos devem ser construídos em casa, que respeito, gentileza e amor são fundamentais.


Agora, acreditar e se gabar que nosso modelo de criação terá exatamente o efeito que buscamos é de uma inocência (e de um brio) gigante.


Subestimamos a ação das curvas da vida, as interpretações individuais (há coisas que fazemos crentes que estamos arrasando e que são recebidas do outro lado de um jeito bem diferente), os gostos, aquilo que é soprando pelo vento, a bendita genética (aqui Farroupilha que o que funciona com uma criança, funcionará com outra), e todo um resto que só compreende quem já tem um filho crescido.


Criar ser humano não é equação matemática. As ordens dos fatores alteram o produto, o cotidiano, a memória, o número do seu jeans e a cor do seu sofá. E a vontade é de quebrar a calculadora na testa de quem dá uma garantia que non ecziste.


É tolice querer levar o mérito do “sucesso” ou do “fracasso” de um filho.


Como se filho fosse quadro que a gente pinta e assina.


Muita humildade nessa hora! Porque e daí?

E daí se mesmo gabaritando a cartilha, o tempo lapidar um filho cujas ideias, comportamentos e estilo de vida não vão de acordo com o plano?


Quem duvida que a força cósmica da humildade materna/paterna aprontaria uma dessas?


Que a nossa geração consiga encontrar um equilíbrio entre o evoluir e (se) aprisionar. Que possamos criar filhos com mais leveza, com menos ensaios, com imperfeições (que um dia poderão ser discutidas em terapia, amém!) e menos, bem menos ego.


Autora: @rafaelacarvalhoescritora